Galípolo no BC: entenda os desafios do próximo presidente em 5 gráficos

Galípolo no BC: entenda os desafios do próximo presidente em 5 gráficos

Economista foi indicado pelo presidente Lula (PT) para substituir o atual presidente da instituição, Roberto Campos Neto. Sabatina será realizada no Senado Federal nesta terça-feira (8)

O economista Gabriel Galípolo foi o escolhido pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) para comandar o Banco Central do Brasil (BC) a partir de 2025. Ele assume a cadeira de Roberto Campo Neto em janeiro, caso seja aprovado em sabatina feita pelo Senado Federal nesta terça-feira (8).

A indicação foi bem recebida pelo mercado financeiro. Mas há um amplo entendimento de que existem muitos desafios à frente, e conquistar a confiança dos agentes econômicos não será um processo simples.

Além de se provar um nome independente — ou seja, que não irá tomar decisões influenciado pelo poder Executivo —, o futuro chefe do BC terá que trabalhar no combate à inflação sem deixar de lado os efeitos prejudiciais que a taxa básica de juros pode causar à economia.

A taxa Selic está, atualmente, em 10,75% ao ano, valor alto e que é usado como referência por bancos e instituições financeiras para, por exemplo, balizar a oferta de crédito.

Quanto mais elevada a taxa, mais caro fica para pessoas e empresas tomarem crédito — o que diminui investimentos e o consumo das famílias. Em geral, esse ciclo se reflete na economia do país com uma atividade econômica mais fraca.

Quanto mais baixa a taxa, mais a economia se aquece, em um momento que o mercado de trabalho já está bastante preenchido e a inflação está próxima do teto da meta que o BC deve perseguir.

Os desafios da condução de Galípolo à frente do BC vão, portanto, muito além do controle da Selic. As decisões se refletem em dados de desemprego, inflação, PIB, dólar e, principalmente, inflação.

O g1 explica, a partir de cinco gráficos, cada um dos cenários abaixo:

  • Selic
  • Inflação
  • Desemprego
  • PIB
  • Dólar
  • Selic

A principal ferramenta do Banco Central para controlar a inflação é a taxa Selic. Quanto mais alta a taxa, mais ela desestimula a atividade econômica, em busca de reflexos de queda nos preços.

Em termos simples, é a lógica da oferta e da demanda: com menos crédito para as pessoas consumirem, menor a tendência de busca por produtos e serviços, o que gera queda de preços.

O movimento de elevação da taxa ocorreu justamente diante dos reflexos da pandemia de Covid-19, período em que os preços dispararam por conta dos impactos da doença nas cadeias de produção, transporte e nas mudanças no padrão de consumo.

Quando os preços começaram a arrefecer, o BC iniciou um ciclo de quedas de juros para não travar demais a economia. Mas o índice de preços ameaça novamente sair do intervalo aceito de cumprimento das metas de inflação do país.

Em sua última reunião, em setembro, o Comitê de Política Monetária (Copom) decidiu aumentar a taxa Selic em 0,25 ponto percentual, para 10,75%. Foi o primeiro aumento de juros desde agosto de 2022 e o primeiro deste mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Caso seja confirmado como presidente do BC, um dos principais desafios de Galípolo será como mostrar que segue critérios técnicos na condução da política de juros do país.

"A cobrança sobre o Galípolo sempre vai ser mais alta. Isso porque ele foi indicado por um governo que, na interpretação do mercado, é mais leniente com a inflação", diz André Galhardo, economista-chefe da Análise Econômica.

O especialista reforça que Galípolo terá que "passar a serenidade que o BC tanto diz em seus comunicados e atas". Galípolo era visto com desconfiança quando foi escolhido para diretor de política monetária do Banco Central, em maio do ano passado, por ser o ex-número 2 de Fernando Haddad no Ministério da Fazenda.

Com seu comportamento na diretoria do BC, conquistou a imagem de um "nome técnico" ao longo do tempo, e sua indicação para a presidência foi vista com bons olhos pelo mercado financeiro.

Inflação

Caso confirmado para o cargo, Galípolo irá se deparar com o desafio de manter a inflação sob controle, já que, na última divulgação do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), ela já está próxima do topo da meta.

Em julho, os preços medidos pelo IPCA subiram 0,38% e a inflação acumulada em 12 meses foi de exatos 4,50%. A meta do BC para 2024 é de uma inflação de 3%, mas ela é considerada cumprida se estiver em um intervalo entre 1,5% e 4,5%.

No mês seguinte, veio algum alívio: os preços caíram 0,02%, na primeira deflação do ano. O país voltou, portanto, a ter uma inflação acumulada de 4,24% em 12 meses, dentro do intervalo da meta.

André Galhardo, da Análise Econômica, lembra que o otimismo com uma inflação mais baixa em 2024 foi se desfazendo ao longo do ano, diante de fatores como a disparada do dólar, os impactos do fenômeno El Niño nos alimentos e os conflitos no Oriente Médio.

"Estou menos otimista também em relação ao ano que vem. O Galípolo terá que ficar bastante atento porque, embora a inflação esteja em níveis mais baixos do que já estiveram, ela tem rondado um limite superior", diz.
De acordo com o último relatório "Focus", a estimativa do mercado é que a inflação encerre 2024 em 4,38%. Para 2025, a expectativa é de 3,97%.

Desemprego

A taxa de desemprego no Brasil foi de 6,6% no trimestre encerrado em agosto. Uma taxa tão baixa quanto 6,6% foi atingida pela última vez em dezembro de 2014. Foi o melhor mês de agosto de toda a série histórica, iniciada em 2012.

Galhardo, da Análise Econômica, projeta que o desemprego seguirá tendência de queda, até encerrar 2024 em 6,4%.

A taxa é um dos indicadores que funcionam como um termômetro da atividade econômica do país e de uma possível pressão nos preços por meio do aumento dos salários. Por isso, é observada de perto pelo mercado, e também pelo BC, para suas decisões sobre juros.

"Se há uma taxa de desemprego muito baixa, há menos trabalhadores à disposição. Portanto, teoricamente, os salários começam a subir — e isso, consequentemente, pode impactar a inflação", explica o economista. "Mas é um dado que precisa ser observado com cautela."
Desemprego cai a 6,8% no trimestre terminado em julho

Andréa Angelo, estrategista de inflação da Warren Investimentos, também destaca que o desemprego está beirando o mínimo, com renda real em alta e criação de vagas de trabalho ainda "muito fortes".

"Atividade muito aquecida vai exigir uma Selic mais alta por mais tempo, o que não era imaginado anteriormente", diz a economista.

PIB

O PIB do Brasil subiu 1,4% no primeiro trimestre de 2024, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Em valores correntes, a economia brasileira acumulou R$ 2,9 trilhões entre abril e junho.

Andréa Angelo, da Warren Investimentos, reforça que o maior desafio para Galípolo à frente do BC será justamente lidar com uma atividade econômica forte.

"O PIB continua crescendo acima do potencial do Brasil. (...) Então, o maior desafio de Galípolo será deixar a taxa de juros em um patamar que faça a inflação caminhar para a meta sem deprimir tanto a atividade econômica."
Agentes do mercado projetam que o PIB brasileiro será de 3% em 2024. Para 2025, a previsão é de desaceleração, com a economia crescendo 1,93%, conforme o relatório "Focus".

Uma taxa Selic elevada tende a diminuir a atividade econômica do país. Por isso, desde que iniciou seu atual governo, em janeiro de 2023, Lula passou a disparar críticas contra o atual chefe do Banco Central, Roberto Campos Neto, indicado ao cargo em 2018 pelo ex-presidente Jair Bolsonaro.

Galípolo, apesar de indicado por Lula, também deverá ser pressionado a adotar uma gestão de juros mais baixos, justamente de olho no desempenho da economia do país.

"É importante que o Banco Central atue pela queda inflacionária, mas também não perca de vista que não pode fazer isso penalizando muito a atividade econômica", afirma Galhardo, da Análise Econômica.

Dólar

Até a segunda-feira (7), o dólar acumulava uma alta de mais de 13% no ano. A valorização da moeda norte-americana frente ao real é resultado de uma série de fatores, como juros altos nos EUA, as preocupações com as contas do governo brasileiro e a escalada das tensões no Oriente Médio.

O dólar mais alto afeta as cadeias produtivas, elevando os custos das empresas e, consequentemente, os produtos finais, com reflexos na inflação.

Além de aumentar preços de itens e insumos importados, o dólar também causa impacto nas commodities. Com a moeda norte-americana mais valorizada, produtores dão preferência a vender para fora do país e receber em dólar, o que reduz a oferta no mercado interno — e afeta o preço.

Outro desafio vem do que deve fazer o Federal Reserve (Fed, o banco central dos Estados Unidos). Em setembro, a instituição decidiu cortar os juros do país em 0,50 ponto percentual (p.p.), para a faixa de 4,75% a 5% ao ano. Essa foi a primeira redução na taxa desde março de 2020.

Em comunicado, o Fomc afirmou que a medida veio "à luz do progresso na inflação e do equilíbrio de riscos". Disse também que "continuará monitorando as implicações das informações recebidas para a perspectiva econômica".

Andréa Angelo, da Warren Investimentos, explica que o momento atual é de dólar forte em nível mundial. "Podemos até estar fazendo o dever de casa no Brasil, mas existe uma atração maior da moeda globalmente."

"Então, talvez o Galípolo tenha que conviver com taxas de câmbio mais elevadas, justamente por esse momento que a economia global está enfrentando — o que se traduz em uma inflação mais alta", diz.
A projeção do relatório "Focus", com estimativas do mercado, é que o dólar vá encerrar 2024 custando R$ 5,40. Para o fim de 2025, a previsão é de R$ 5,39.

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